sexta-feira, 29 de setembro de 2006

acertando na mira





Não é sempre, mas às vezes a gente acerta na mira. Em épocas caóticas, que minhas amigas- astrólogas-sempre-de-plantão dizem que são comuns no inferno astral (se considerarmos a data do meu aniversário, acho que estou dentro de um desses inferninhos), faço um esforço enorme para andar na mão certa da estrada, não cortar pelo acostamento e, céus, o perigo - não andar na mão contrária. Quando se consegue e a balança pende para outro lado, aquele lado pretendido, da vida equilibrada, razoável, ponderada, ufa. É um alívio. O importante é apenas isso: não esquecer que existe uma mira.

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

o zé


- Tem uma coisa que me irrita muito.
- Que é, Zé?
- É o seguinte. Vamos supor que a gente resolve convidar uma pessoa pra vir em casa. Daí a gente liga e fala: “oi fulano, vou fazer um churrasco aqui no sábado, você não quer vir?”
- O que tem de irritante nisso?
- Calma, eu não acabei de explicar.
- Tá, então acaba.
- Daí a pessoa vem e responde: “oba, que bacana, eu vou”. E logo em seguida – e é isso que me irrita – a pessoa vem e me fala: “ei, quer que leve alguma coisa?”.
- Como é? Zé, você se irrita com o fato da pessoa perguntar se você quer que ela leve alguma coisa?
- Sim, eu me irrito.
- Zé, a pessoa está sendo educada. Tá querendo colaborar. Fazer um agrado. Nossa, como você é implicante.
- Eu sei. Mas isso me irrita e eu tenho vontade de responder uma coisa bem desconcertante.
- Como assim?
- Hahaha. “Quer que leve alguma coisa?”, a pessoa vai perguntar. E eu vou responder: “Sim, eu quero. Estou precisando de meias. As minhas estão com os elásticos todos frouxos”. Hahaha. Entendeu?
- Zé, você não bate bem.
- Dane-se. É só vontade de ser meio terrorista, não significa que eu vá falar.
- Tomara... Mas você precisa mesmo de meias? Eu posso comprar, não precisa pedir para os seus amigos.
- Preciso. Muito. Os elásticos estão todos frouxos.

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

purgatório ou blogatório?


No meio da bagunça da vernissage da exposição do Nelson Leirner ontem – a lot [e] , achei o Dudi. Começamos a conversar no meio dos milhares bonecos do Nelson, e, inspirados por aquela simbologia e pela alegria que tem sempre existe nas exposições do Nelson Leirner (não sei explicar porquê, mas as exposições dele são sempre muito felizes), claro, caímos novamente nesse assunto aqui, os blogs.
Bom, o Dudi tem blog há muitíssimo mais tempo que eu. Me lembro do tempo que não era blogueira, vivia fuxicando no blog dos outros, sempre caia no dele e ficava intrigadíssima com ele e com essa mídia. Como funcionava? Servia pra quê? Até hoje não sei, graças a Deus. Mas como blogueiro é blogueiro, independente do tempo que a pessoa posta da vida, as dificuldades, complicações e preocupações são sempre as mesmas, sejam as fofocas ou as crises: os brancos, as síndromes de Bartleby, o enchi-o-saco, o vou-fechar-essa-coisa, o não-aguento-essa-rotina.
Tudo igual.
Bom, era mais ou menos sobre essas crises que começamos a conversar. Ele dizia que ficou um tempo afastado, eu contei sobre o recesso do frankamente.... Foi quando passei a falar sobre uma coisa que me veio à cabeça no começo dessa semana e que desde então tem me perturbado demais. É o seguinte. Eu sempre gostei e precisei escrever. Todos os dias eu escrevo, desde que aprendi as letras. Mas desde sempre as coisas que eu escrevo são projetos que acabam. É isso mesmo. Eu escrevo sempre coisas com começo, meio e fim, não necessariamente nessa ordem, mas sempre meus escritos tiveram fim, sejam novelas, romances, peças de teatro, coletâneas de crônicas, livros de contos, histórias infantis. Mesmo também eu não tendo sido publicada (ainda), os meus projetos sempre finalizam, assim como tudo que eu já fiz de desenhos e também de projetos de arquitetura.
Mas desde que cai na blogosfera que me deparo com uma questão super estranha. É que blog não tem fim. É um treco eterno! Pensa gente, se não é assim. Você não pode concluir um blog. Ele é fadado a existir, existir e existir, numa existência sem fim. Por isso que a gente enche, por isso que temos síndromes de Bartleby, por isso que cansamos: é por causa dessa perenidade da virtualidade. Blogs são, na verdade, totalmente inacabáveis. Largá-los é considerado praticamente um assassinato, você é totalmente julgado por isso. A existência deles está estritamente vinculada à durabilidade. Existe um lado até, digamos, de purgatório nesse universo virtual – até mandei um e-mail para o Mario Prata falando sobre isso (ele está escrevendo um folhetim no jornal Estadão, que se chama “o Purga”, sobre uma mulher morta que se comunica virtualmente com um amado de lá do purgatório – é super legal, vale a pena acompanhar). Olha. Somos todos seres do purgatório nessa rede, sem rostos, sem voz, sem realidade. Coisa mais esquisita.
Obvio que não cheguei tão longe ontem na minha conversa com Dudi. Na vida real, principalmente nas exposições do Nelson Leirner a gente é muito interrompido (o Dudi umas setecentas mil vezes mais do que eu, obviamente) e não dá pra desenvolver tanto as idéias. Mas de um certo modo, melhor se conformar: ou damos uma de serial killers, matando blogs e personagens, ou estaremos eternamente nesse purgatório, trancados e fadados a imortalidade.
Já estou me vendo daqui a sessenta anos. Franka, uma das mais velhas blogueiras mais antigas do mundo, sentadinha numa cadeirinha de balanço, ouvindo um velho iPod e... postando. Postando.
Postando.
Postando...

terça-feira, 26 de setembro de 2006

a desobstrução

.
É uma propaganda de televisão. Quando ela aparece, sempre no horário nobre da tv, e, inacreditavelmente antes do jantar, as pessoas aqui de casa começam a berrar de... nojo.
- Arghhh, lá vem mulher-diarréia! – exclama um dos meninos, rindo.
- Urgh, não vou ver, vou sair da sala – eu sempre falo, pulando do sofá.
- De novo? Que inferno! – fala o Zé – Todo santo dia essa mulher tem que desobstruir esse intestino bem na hora do nosso jantar?
- Ô mulher porca, lá é hora de falar disso? – fala meu outro filho.
- Éca, nunca vou comprar essa porcaria – diz minha filha, saindo da sala.
É uma propaganda desses iogurtes que fazem o intestino funcionar. Hoje em dia está na maior moda usar esses produtos. A propaganda fala que eles, além de serem saudáveis, facilitam o funcionamento do sistema digestivo e que isso faz as pessoas ficarem mais 'felizes'. Hummm, sei não. Acho que consumir frutas e fibras faria o mesmo efeito, mas propaganda é propaganda e as pessoa se convencem. E, bem, muita gente que deve se beneficiar muito desse tal produto, que acredito – sério – deve realmente fazer bem num caso de necessidade. Mas o que incomoda todo mundo aqui em casa é a idéia da propaganda. A idéia é absurda, gente. Quem inventou aquilo?
Bem, não deve ser fácil fazer uma propaganda de um treco que você come especificamente para fazer o, digamos, número dois. Sim, convenhamos, isso é bastante constrangedor, obviamente. Você não pode mostrar uma mocinha comendo e correndo para o banheiro, isso seria meio feio. Nem pode falar escancaradamente, 'coma esse iogurtinho e vá ...'. É preciso ser 'sutil'. O ideal, acho que eles pensaram, será fazer um tipo de comparação. E é essa comparação que dá acessos de riso e nojo na minha família, pois é muito infantil e, digamos, escancarada. Aliás, é tosca até não poder mais, como diz meu filho mais velho.
É o seguinte. Na primeira cena vemos uma mocinha linda numa varandinha de um prédio numa manhã linda de sol com um potinho do tal iogurte na mão. Até ai você não sabe de nada. Daí a mocinha dá um sorriso sem graça, faz uma carinha de prisão de ventre e olha para a rua lá em baixo. Aparece então uma cena com uma avenida enorme e com o maior congestionamento de carros. Óbvio que os carros estão ali representando as "obstruções". Éca, que nojo. Close na mocinha de novo, ela come uma colherinha do iogurte. Cena na avenida intestina, o trânsito anda um pouco. Tá funcionando. Close na fulana, outra colherada. Cena na avenida, mais um movimento. Mais outra colherada, mais carros fezes andando pelas vias intestinais. Urgh, é nojento aquilo e a coisa continua, potinho, carro, potinho, carro, até que a mocinha come a última colherada e, arghhh, lá passa o último carro-fezes e a rua fica limpinha, desobstruída.
Aí a mocinha sorri, aliviada.
Aliviada?
Argh.
Gente, vocês não acham isso muito nojento? Não compro nem morta.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

prefiro não fazer





Foi na sexta feira que ele apareceu na minha vida, esse personagem esquisito. Fui numa exposição, encontrei uma amiga e saímos num grupo para jantar. Falamos horas sobre sapatos de salto e sem salto, e, não me lembro porquê, ela me indicou um livro pra ler. Bem, nos finais de noite os assuntos sempre se interligam em esquisitas osmoses alcoólicas.
- 'Bartleby, o escriturário', de Herman Melville, você já leu? – ela perguntou.
- Não tenho idéia do que se trata – respondi.
- É um livro pequeno, apenas um conto, do mesmo autor de Moby Dick. É sobre um homem que pára de fazer as coisas na vida.
No dia seguinte, ela veio aqui e deixou o livro emprestado. Óbvio que acredito que, se o destino me coloca diante de uma coisa, essa coisa é pra lá de importante. Então era melhor não perder tempo – sentei e pimba, li o livro todo numa só tacada.
Uau. Pois vamos à mais uma resenha-rústica da franka. Gente. Incrível o livro. Ouve só: esse Bartleby é um cara que passa a negar o mundo progressivamente e que, de um certo modo, pára de viver. É um escriturário copista de um cartório, um sujeito branquelo, esquálido, sem graça e calado, daqueles fulanos que a gente nem nota que existe, mas muito eficiente no trabalho. Certo dia é solicitado para um serviço importante e responde para o patrão, sem mais nem menos: "prefiro não fazer".
- Hã? – fala o patrão, incrédulo.
E ele repete, impassível.
- Prefiro não fazer.
Isso desconcerta todo mundo - inclusive o seu patrão, que é o narrador da história e que passa a ter atitudes hilárias para resolver essa questão internamente e éticamente. Os colegas de trabalho se revoltam: oras, ele não vai ser demitido? Mas não há malícia, esperteza e nem maldade naquele ‘não fazer’. O patrão adia a decisão e resolve esperar o tempo passar, pois simplesmente não sabe como agir diante daquela negação.
O tempo passa e o Bartleby passa progressivamente a 'não' fazer as coisas: não trabalha, não sai do escritório, não falar, não interage, não briga, não discute, nada. Apenas diz que ‘prefere não fazer’. Depois de um tempo, ele não faz mais nada e passa os dias olhando a empena cega do prédio da frente em Wall Street. Parado. Mudo. Se recusa até sair do escritório e passa a morar ali. A questão intrigante é que ele tem diante dele todas as possibilidades, mas não faz nada - absolutamente nada - é como se ele se alimentasse da negação da própria existência.
O termo ‘prefiro não fazer’ vira chacota no escritório, as pessoas todas passam a falar “eu prefiro – eu não prefiro - fazer isso - aquilo”. O patrão entra em crise existencial, e o Bartleby se mexe fisicamente cada vez menos.
Olha. Não posso contar aqui a história toda, mas eu acho que esse Bartleby tem tudo a ver com a vida das pessoas que escrevem. Na sexta eu li no jornal uma frase de Gustave Flaubert, "escrever é um modo de viver". Pra mim isso é mais que verdade, escrever é meu modo de sobre-viver, e quantas vezes eu já não caí nesse 'nada'. Acho que entrar no nada é coisa super comum de quem cria. Por exemplo, nesses tempos de recesso do 'frankamente...', acho que estou com Síndrome de Bartleby. Tenho o blog, olho para ele diariamente e digo: 'prefiro não fazer'. Hahaha. Acho que o Bartebly nos acompanha na vida em diferentes dimensões. Quantas e quantas pessoas não tem essa questão, esse nada, essa negação da própria criação.
Bom, junto com esse livro minha amiga me emprestou outro, também sobre o Bartleby e mais maluco ainda, que comecei a ler ontem e que se chama 'Bartleby e companhia', de um catalão, Enrique Vila Matas. Um cara que estuda os Bartlebys, ou a literatura do não, ou a atração pelo nada. Pelo que li na orelha, no livro dele ele cita escritores que escreveram apenas uma obra e pararam, outros que escreveram muitas e param ou até aqueles que nunca escrevem. Uau. Querem saber? O post acaba aqui.
Prefiro não concluir.

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

para os comedores de bolacha




Ingredientes


½ xícara de manteiga ou margarina
½ xícara de açúcar
1 gema
1 colherzinha de essência de baunilha
4 colheres de sopa de leite
1 ½ xícara de farinha de trigo
1 colher de chá de fermento
2 colheres de sopa de chocolate em pó


Modo de fazer


Faça uma massa com a manteiga, a gema e a essência de baunilha. Junte a farinha, o leite e o fermento. Depois que a massa ficar bem lisa e uniforme, divida em duas partes e numa coloque o chocolate em pó.
Abra a primeira parte, a branca, sobre uma mesa polvilhada com farinha de trigo. Em seguida abra a segunda parte, a com chocolate, também sobre uma mesa polvilhada. Sobreponha as partes, colocando a parte escura sobre a parte clara e enrole como se fosse um rocambole.
Leve o rolo de massa ao refrigerador por 15 minutos, retire e recorte em rodelas. Assar em forno moderado.


Assim você faz essas bolachinhas legais em casa, sem o tal trans-seiláoquê. Quem fez essas ontem e quem me deu a receita foi minha mãe, ela copiou de um antigo livro de receitas que ela chama de 'livro da sangirardi'. Não sei quem foi esse(a) 'sangirardi'.
Não exagere na hora de consumir, para não virar, como disse um amigo, trans-baleia.

terça-feira, 19 de setembro de 2006

óculos de assassina




A primeira vez que notaram foi quando houve o assassinato do PCFarias. Em todos os jornais, aquele monte de foto da namorada assassinada, a Suzana Marcolino.
- Olha lá Lu... olha como o óculos dela é parecido com o seu.
A gente abria o jornal, as revistas de fofocas, a revista Veja, Isto é, Época e lá vinha aquele monte de fotos da Suzana Marcolino com uns óclões idênticos ao que eu tinha na época.
- Essa mulher ai, mãe, parece você com esses óculos.
Até minha mãe.
- Veja, Lúcia. Essa tal de Suzana tem uns óculos iguais à aquele seu, aquele que eu não gosto, preto e grandão demais.
O tempo passou, perdi uns, comprei outros, mudei de modelo e tipo até que, na semana passada, a coisa se repetiu.
- Olha Lúcia... – falou o Zé, lendo o jornal – Repara nesses óculos dessa tal de Carla Cepollina, a namorada do falecido coronel Ubiratan...
- Que é que tem?
- Olha. É igual ao seu.
De novo?
- É mesmo, vamos pegar o da mamãe pra comparar – disse um dos meninos, trazendo a minha bolsa.
No dia seguinte, o Zé notou outra coisa.
- Lu! Olha que engraçado. Os óculos da mãe- advogada, essa tal de Liliana Prinzivalli, é idêntico à aquele outro seu, que você usava no ano passado!
- Como é, Zé?
- Olhaqui.
Nossa. Idêntico mesmo.
Óbvio que isso não deve ter acontecido só comigo, afinal os modelos de óculos tem a ver com a moda e milhares de mulheres tem óculos iguais. Mas constatar essa semelhança é engraçado, e eu estou aqui pensando se teria alguma coisa a ver o fato de eu ter o mesmo 'gosto' para óculos do mulheres envolvidas com mortes horríveis. Confesso que tenho arrepios de pensar, e, Deusmelivre, de me imaginar em páginas policiais.
Uia.
Aliás, se eu fosse dona de uma fábrica ou loja de óculos, eu me aproveitaria disso e lançaria já uma linha de óculos feminina chamada “killer glasses”. Porque gente, pensa bem: os nomes dessas mulheres são sensacionais para nomear uma linha de óculos. Imaginem a cena:
- Por favor, eu queria experimentar um óculos daquele ali – diria uma freguesa.
- Este? – falaria a vendedora – Esse é um legítimo Carla Cepollina.
- Iii, nossa. Deve ser caro pra chuchú. E aquele ali?
- Aqueles todos são Suzana Marcolino, é a linha original, com lentes a prova de bala e com a assinatura do PCFarias na haste. Mas estamos com uma promoção muito boa nos óculos Liliana Prinzivalli. Quer dar uma olhadinha?

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

OS TEXTÍCULOS NO NEXT


Olhai.
Isso aqui é uma propaganda explícita da peça do Antônio Rocco.
Texticulos.
Vamos todos lá. Ele tá convidando.

Eu conheci o Antônio Rocco por causa do Pecus. No ano passado eu contei para o Pecus que adorava e escrevia teatro e ele me levou no Next para conhecer o Antônio. São amigos de infância, os dois. Depois daquele primeiro dia, quando cheguei ao Next morrendo de vergonha (eu não conhecia nem o Pecus e nem o Rocco direito), fui um monte de outras vezes. Adorei tudo, o Antônio Rocco, o Guilherme Rocco e o Next. Também adorei as noites que passei lá, que foram extremamente divertidas e que me renderam mega-broncas do Zé por chegar tão tarde em casa.
"Onde-que-já-se-viu dona lúcia? Isso é hora de uma mãe de família chegar em casa a noite num dia de semana?", ele me disse, bravo e olhando o relógio.
"Não é culpa minha, Zé, é a Franka que foi, é essa Franka que fica a noite com os blogueiros e se atrasa!", respondi, disfarçando.
Numa noite dessas o Rocco falou do projeto Textículos. A idéia é bárbara, um teatro tipo crônica. Achei muito legal, parece com o meu projeto de crônicas aqui do "frankamente...". Ele foi adiante e ai está: a peça pronta e estréia na sexta, no teatro Next.
No dia do Caju-amigo, aquele encontro de blogueiros que fizemos, eu e o a. antes do Pandoro fechar, o Rocco foi. Chegou subitamente com um dos Textículos nas mãos, surpreendendo a todos, e, alegremente (como é de hábito) distribuiu cópias para alguns presentes, dizendo que tinha recém escrito o texto e pedindo que fizéssemos uma leitura com ele. Como sou animada para qualquer novidade (ainda mais depois de dois cajús), levantei a mão e me ofereci. Assim, coube a essa blogueira aqui o papel da atriz principal, uma fulana muito assanhada que tenta seduzir um vizinho no elevador de um prédio residencial. Confesso que no começo me senti um pouco envergonhada, mas diante da espontaneidade dos demais colegas blogueiros também envolvidos na leitura, em pouco tempo me soltei e incorporei to-tal-men-te a vizinha assanhada, a Márcia (difícil foi “desencorporar” a fulana depois... passei a noite num estado de assanhamento que vocês não imaginam). Sei lá o que os outros acharam do meu desempenho e do Textículo, mas eu, pessoalmente, achei o texto demais e me achei talentosíssima para a carreira de atriz. Desde então tenho esperanças de, quem sabe, poder repetir o Textículo novamente, mas dessa vez num palco de verdade e sem caju.
Ora. Afinal, a gente nunca sabe como será o dia de amanhã.
E vamos todos lá ver o Antônio.

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

'o corte' do costa gavras



O filme é sobre um cara de 40 - 50 anos, executivo de uma empresa de reciclagem de papel em Paris, que perde o emprego de dez anos depois de uma fusão da sua empresa com outra. Fica desempregado da noite para o dia e não tem como sustentar a família - a esposa e um casal de filhos adolescentes. Assim se passam dois anos. Ele começa a pirar com a falta de trabalho, até que um dia o filho mostra à ele, na tv, uma propaganda de uma empresa concorrente da antiga empresa onde trabalhou. Na propaganda vê-se um executivo gordinho ridículo dando depoimentos, assim tipo enaltecendo a empresa. Ele fica puto e comenta com a família que era ele que deveria estar ali, no lugar daquele cara, que ele é muito melhor e mais competente que o fulano gordinho. Logo em seguida ele começa a pensar que, se aquele cara morresse, ele entraria no lugar do cara, e começa (é engraçado) a planejar a morte do cara. Mas ele conjectura que, mesmo assim, depois da morte do gordinho, ele teria outros concorrentes para conseguir o emprego, então resolve primeiro descobrir quem seriam eles. Inventa uma empresa fictícia de reciclagem de papel, cria uma caixa postal no correio e coloca um anúncio falso oferecendo um bom emprego. Recebe assim um monte de currículos e seleciona os melhores, que são cinco fulanos - que ele define como seus inimigos em potencial. Assim decide, antes de eliminar o executivo gordinho, eliminar aqueles cinco homens que podem ser escolhidos no lugar dele depois que o cara morrer. É um roteiro muito genial, falaverdade. Obviamente que ele tem todos os dados dos caras - endereços, telefones, etc., o que na cabeça dele torna a coisa fácil. E assim aquele homem normal, super renato, morador de uma casa bacana de subúrbio, com cara de executivo, familia bonitinha, papai-mamãe-dois filhinhos, resolve cometer crimes horríveis a luz do dia, matando cada um dos concorrentes a sangue frio. Se ele sente culpa? Sente, mas não é uma culpa absurda, e é ai que o filme é maluco. Ele chega a tremer e ter xiliques quando mata os caras, a adrenalina corre solta, mas ele logo se recupera e a sensação que temos é que a coisa não é tão horrível assim. Olha. É sensacional o filme e completamente politicamente incorreto. A chave da questão, na minha humilde opinião, está num diálogo em família. No meio do filme o filho mais velho rouba um computador e vai preso. O pai, então já o maior 'bandidão' da paróquia, rapidamente descobre e destrói as provas haviam na casa dele contra o menino para a policia não perceber. Assim o menino recebe uma pena pequena, presta trabalhos comunitários e consegue ser libertado rapidamente. A família sai para almoçar para comemorar a soltura do moleque e dá-se o seguinte diálogo na frente do pai, que se mantém calado:
"Os fins nunca justificam os meios", diz o menino.
"Bom, menos para tirar o filho da cadeia...", fala a menina, irônica.
"E menos em tempos de guerra", conclui o garoto.
"Na verdade, a escolha dos meios é luxo de uns poucos privilegiados", conclui a garota.
"Mesmo em tempos de guerra", fala a mãe.
"As provas é que são um lixo", fala o menino.
"E a filosofia também não é?" pergunta a menina.
Hehehe. O fim do filme eu não vou contar, mas fiquemos aqui com essa impressão sobre essas malditas filosofias de vida...
Mas Franka, você não tinha parado de escrever aqui?
Nunca, jamais...


sexta-feira, 1 de setembro de 2006